Sejam bem-vindos e bem-vindas a mais uma news do Clima.
A curadoria mensal de conteúdos, divagações e cutucos pra gente não desistir e se interessar mais pelo que acontece fora do nosso umbigo.
Nessa edição: vida pós-eleições, onde encontrar esperanças e referências e links pra ver sem pressa.
Ah, as palavras em laranja têm coisa, só clicar.
Pra quem cansou da gente, é possível se desinscrever a qualquer momento lá embaixo.
Para quem curtiu, espalhe a ideia :)
Você tem chorado ultimamente?
E você chora porque tem coisas difíceis acontecendo na sua vida hoje e/ou porque você se comove com o que se passa ao seu redor?
Explicando melhor: você acha meio bizarro se deixar afetar pelo que acontece na sociedade, mesmo que não impacte diretamente na sua vida cotidiana? Acha que é drama que de quem não tem problemas próprios concretos para resolver?
Não quero aqui julgar nenhuma postura, só fico pensando que o estado pré-consciência e ciência da realidade era bem mais leve. Mas por outro lado, querer entender e refletir, faz com que a gente não caia em discursos vazios, e também nos conecta com algo maior que nós (e aqui você pode dar o nome que quiser), e isso traz sim muitas alegrias por aí.
Mas se você estiver se sentido triste, ansiosa/o, confusa/o, principalmente nos últimos meses (com o pico nessa semana), saiba que não está só.
Confesso que ultimamente tenho me sentido tal como esse quadrinho do Eduardo Arruda, dei uma esgotada, mas diferente do que já tive anteriormente (por excesso de trabalho). Agora me encontrei dando loopings em redes sociais, querendo ler as últimas análises, textos, notícias, e nisso, senti meu cérebro embotando, sabe?
Não consegui escrever nenhum post, produzir conteúdo, e vem aquela ansiedade de perder muitos seguidores por não postar, como se existisse aí uma obrigação e sentimento de falha. De novo nosso valor sendo medido pelo que a gente produz. Mas vendo muita gente pifando por esse clima gostoso de burnout eleitoral, resolvi dar uma colher de chá, até porque vamos dizer que mesmo que no domingo a gente comemore, vai ter muito b.o. pela frente pra resolver.
Vi nesses dias em algum comentário de redes dizendo que a “luz no fim do túnel é um trem vindo na nossa direção”. Esse realismo pessimista é importante da gente acolher, ao mesmo tempo, se trouxer um sofrimento que paralisa e tira qualquer vontade de mudança, nos faz apenas andar em círculos, e ficamos só na crítica, no fatalismo e na fossa.
Mas por outro lado, onde encontrar as energias que nos motivem a acreditar e a querer se movimentar de alguma forma pra mudar o que quer que seja?
Se a gente for pra vida pessoal, na terapia sempre volto ao mesmo ponto que dá raiva de tão óbvio - de que a gente muda quando a água bate na bunda - ou seja, quando a gente precisa mesmo, mudamos e corremos atrás, não tem jeito.
Transpondo pro nosso envolvimento com qualquer pauta coletiva, parece mais “natural” se mobilizar quando nós sofremos diretamente com algo que produz uma revolta e raiva tão grande, e isso se torna a única via de sobrevivência. Mas quando há um certo conforto, fica mais fácil aceitar as coisas como são e não se envolver de corpo e alma.
Um exemplo mais clichê: não adianta falar em colapso climático, extinção dos animais, etc. A coisa só vai mudar de fato quando começar a faltar coisa e afetar essa suposta normalidade. Infelizmente, parece que só se ferrando muito que a gente acorda.
Por enquanto, estamos anestesiados/as, nos acostumando com uma série de acontecimentos e injustiças, como se o absurdo fosse normal. E haja rede social, tv e poder pra sustentar isso.
Mas acredito demais no poder que existe quando a gente se sensibiliza, desenvolve um olhar mais compassivo. Talvez isso vai ser transformar em um recurso de sobrevivência, já que estamos cada vez mais solitários/as, deprimidos/as e ansiosos/as.
E quem começa a se importar com as pequenas coisas e com quem tá em volta, acaba se conectando com o que vai além da sua própria vida. Não há fluoxetina suficiente pra dar conta da complexidade que a gente tá enfiado e a tecnologia social é o que vai nos tirar dessa.
Então voltando na pergunta sobre onde encontrar inspiração, uma resposta que me vem já foi falada bastante por aí (e que compartilhamos demais nos encontros do Clima no passado): a solução vai vir das margens, exemplos já estão sendo aplicados e outras formas de organização da vida já existem.
Mesmo não fazendo parte desses mundos, eles nos inspiram porque mostram possibilidades, tão importantes uma vez que o discurso de “não existe alternativa” já está internalizado na gente.
Deixo aqui um documentário que vale muito ver sobre a perspectiva de um de nossos maiores pensadores, Milton Santos, e que pode dar uma faísca de des-indiferença aí dentro, ou de revolta, ou de esperança mesmo.
Que a gente saiba que não existem mudanças de um dia pro outro: a velocidade que a gente aceita como “normal” de informação e de trabalho é outro tempo, nocivo e deprimente. As mudanças estruturais requerem atitudes diárias, brigas constantes, empenho de gerações e a urgência de aprender novas formas de se relacionar com tudo.
E galera, pra quem assinou a news do Clima porque tem interesse em saúde mental e mundo do trabalho, e tá mei chatiado porque estamos falando de política há 2 edições, espero poder ter conseguido, nem que for só um tiquinho, mostrar que está tudo interligado.
Antes de sonhar, nos cabe demais entender mesmo como alcançamos essa configuração de Brasil pra não achar que é só votar no Lula que já resolve a vida.
→ Livro Do Transe a Vertigem : o filósofo Rodrigo Nunes busca entender as diversas caras do bolsonarismo, memes, negacionismo, empreendedorismo, polarização. Tá tudo junto.
→ Documentário A Lavagem cerebral do meu pai. Provavelmente vocês já conheceram pessoas fofas e amorosas que aderiram a ideologias não tão fraternais. O doc é uma espécie de pré O Dilema das Redes, e mostra como surgiram as mídias de extrema direita nos EUA e a influência delas na transformação radical do pai da diretora.
→ Fala do Prof. Paulo Arantes: uma baita aula com uma abordagem diferente do que vemos por aí, desde discordar sobre o que chamamos de fascismo, a relação entre empreendedorismo e bolsonarismo, a falácia de achar que tudo isso é culpa de 2013, desembocando no colapso climático e a disputa de visão de futuro.
Nos vemos do outro lado de lá, e que a gente consiga voltar a sonhar e organizar a nossa indignação.
Um abraço,
Nat